sábado, 10 de novembro de 2012

O Neoliberalismo


Neoliberalismo
O capitalismo é movido pela tendência à generalização da forma-mercadoria, a máxima ampliação possível do âmbito da produção de mercadorias como proporção do produto da socedade como um todo. Liberalismo era a forma ideológica precípua no primeiro estágio, do capitalismo caracterizado por elevados ritmos de expansão da produção.
A exaustão do primeiro estágio de desenvolvimento deu lugar ao estágio. Nesse, em lugar de rápida expansão, o processo predominante é o progresso técnico, única fonte de expansão da produção, vale dizer, de acumulação capitalista. Liberalismo dá lugar à social-democracia como forma política e ideológica preponderante desse estágio, que tem como um de seus suportes a elevação dos níveis de reprodução da força de trabalho, necessário tanto para acompanhar os requisitos de qualificação da forá de trabalho impostas pela evolução das técnicas de produção, quanto para assegurar mercado de escoamento da produção. Concomitantemente amplia-se o ãmbito de intervenção do Estado na organização da produção.
O estágio intensivo entra por sua vez em crise após a exaustão do 'boom' da reconstrução pós-guerra no final da década de 1960. Na dialética da forma-mercadoria que regula o capitalismo, o crescimento paulatino da intervenção do Estado, já prenuncia um problema estrutral para o capitalismo, mas essa intervenção cresce particularmente acelerado no estágio intensivo, a ponto de colocar a própria primazia da forma-mercadoria (vale dizer, o próprio capitalismo) em xeque. O âmbito do mercado --refletido também em superprodução, recessão ou queda da taxa de lucro-- vai se retraindo inexoravelmente.
Neoliberalismo é a resposta à crise do capitalismo decorrente da expansão da intervenção do Estado, antagônica à forma mercadoria, ainda que necessária para sustentá-la. Após alguns anos de diagnóstico e de tateações (Crozier et alii, 1975), o n~ toma forma no final da década de 1970 como 'Reaganismo' e 'Thatcherismo', e consiste essencialmente em uma tentativa de recompor a primazia, e recuperar o âmbito, da produção de mercadorias. Renegando as formas social-democratas que acompanham o estágio intensivo, nega a crise estrutural e histórica do capitalismo e se volta às origens desse, do tempo do liberalismo -- daí o nome de neo-liiberalismo. 
As políticas neoliberais perseguidas ao final dos anos 70 e no começo dos 80 por parte dos governos nacionais dos países centrais constituem precisamente uma tentativa (crescentemente desesperada) de 'remercadorização’ de suas economias.
O Estado capitalista tem que tentar isso, uma vez que assegurar as condições da produção de mercadorias é sua própria razão de ser, mesmo se, assim fazendo, Ihe escapa inteiramente o fato de que a negação da negação da forma-mercadoria não pode restabelecer essa última: privatização não é o mesmo que mercadorização.

 
O arsenal do neoliberalismo inclui o farto uso de neologismos que procuram destruir a perspectiva histórica dando novos nomes a velhos processos ou conferir respeito a pseudoconceitos  Surgem, assim, o pós-moderno, o desenvolvimento sustentável, os movimentos sociais urbanos, a exclusão social, os atores(sociais), as ong-s, a globalização, o planejamento estratégico..., que procuram encobrir, ao invés de revelar, a natureza do capitalismo contemporâneo.

A questão agraria na nova republica





Revisão da estrutura agrária de um País com objetivo de realizar uma distribuição mais igualitária da terra e da renda agrícola. No Brasil, a questão da terra é hoje um grave problema social por causa da grande desigualdade na distribuição da propriedade. Envolvendo promessas do Governo, acusações entre os fazendeiros e trabalhadores sem-terra e muita violência, o problema tem suas origens na época colonial.
Das sesmarias à Lei de Terras - durante a colonização, Portugal aplica no Brasil a legislação e a política agrária praticadas na metrópole desde o século XIV. Baseia-se na doação de terras de domínio público - terras devolutas - a particulares no regime de sesmaria, ou seja, na condição de cultivá-las dentro de certo prazo. O objetivo é tanto o aumento da produção agrícola quanto a ocupação territorial. No Brasil, a concessão da sesmarias é atribuída aos donatários e governantes das capitanias e depois também às câmaras municipais. Enquanto na metrópole as concessões eram pequenas, na colônia, em razão das grandes dimensões de território e do não-reconhecimento dos direitos dos índios sobre suas terras, as sesmarias viram imensos latifúndios.
O governo português tenta controlar esse crescimento excessivo das propriedades, quase nunca acompanhado por igual crescimento da produção. Em 1695 limita-se o tamanho das sesmarias ao máximo de 4 léguas de comprimento por 1 légua largura (cerca de 24 Km², ou 2.400 há). Na prática isso não funciona, porque muitas terras são ocupadas em regime de posse (direito de propriedade decorrente da exploração efetiva e duradoura de terras não ocupadas e raramente legalizadas. Além disso, na agricultura extensiva da colônia, a produção se realiza pela ocupação contínua de novas áreas, fazendo com que as propriedades rurais cresçam sempre mais em tamanho do que em produtividade. Em 1822, às vésperas da independência, o regente Dom Pedro extingue o regime das sesmarias.
No Império, as principais medidas de regulamentação de acesso e posse legal da terra são tomadas na Lei de Terras, de 18 de Setembro de 1850. Ela estabelece que as terras devolutas só podem ser legalmente adquiridas por compra em leilões públicos e que as terras ou posseiros somente devem ser legalizadas na parte efetivamente ocupada e explorada para o sustento da família proprietária. O objetivo é ordenar a propriedade agrária e criar um mercado de terras, pois, com o fim do tráfico de escravos, elas se tornariam o capital que iria substituir o investimento feito em mão-de-obra.
Terras na República - Essa lei não impede o crescimento da concentração agrária. A ocupação de novas terras continua a acontecer de forma irregular, e, às vezes, violenta pelos grandes proprietários para quem a terra agora, além de símbolo de prestígio e poder, é uma reserva de valor. Já os pequenos proprietários, em geral posseiros, encontram dificuldade para legalizar a posse e não tem meios de disputar o mercado de terras - nas áreas de expansão agrícola, porque a terra é valorizada, e nas áreas pioneiras, porque a terra é dominada pelos "coronéis" latifundiários ou seus prepostos.
Com a República, essa situação não muda. Na República Velha, os estados passam a administrar as terras públicas, facilitando sua apropriação pelas oligarquias e coronéis. Em 1920, 4,5% dos proprietários possuem a metade das propriedades rurais do país. Esse processo gera a redução das áreas de produção de subsistência, fazendo a nação importar alimentos e a expansão descontrolada das áreas agroesxportadoras, levando às crises de superprodução, como a do café entre os anos 20 e 30. Após a Revolução de 1930 é criado o Ministérios da Agricultura, mas durante toda a era Vargas os problemas agrários ficam em segundo plano, inclusive no Estado Novo, quando é instituída a legislação trabalhista para os trabalhadores urbanos.
A reforma agrária - A partir das décadas de 40 e 50, o tema reforma agrária ganha destaque, a crescente modernização da agricultura e da industrialização do país intensificam o êxodo rural, as migrações regionais e a concentração fundiária. Por outro lado a organização dos trabalhadores rurais em sindicatos e federações faz crescer os movimentos reivindicatórios no campo, como as Ligas Camponesas. Para o estado, a questão da terra vira um desafio político e para os partidos, uma bandeira ideológica.
Nos anos 60, o governo de João Goulart anuncia o lançamento das "reformas de base", começando pela reforma agrária. Logo após a implantação do Regime Militar de 1964 é criado o Estatuto da Terra (1964) e, em 1970, o Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA), para tratar da questão agrária. Os resultados práticos são pequenos. Com a política de incentivos fiscais dos anos 70 para os grandes empreendimentos agropecuários e extrativistas, a concentração aumenta mais, sobretudo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, enquanto os projetos do INCRA, como as agrovilas da Amazônia, não se viabilizam.
Na década de 80, os problemas da terra se agravam. A concentração fundiária continua grande: enquanto 4,5 milhões de pequenas propriedades de até 100 ha têm apenas 20% de toda a área e empregam 78% da força de trabalho rural, 50 mil grandes propriedades com mais de 1.000 ha ocupam 45% da área e absorvem 4% da mão-de-obra. Com o fim do "milagre econômico" e a recessão há um grande aumento do desemprego e do êxodo rural. Com isso cresce o número de conflitos violentos no campo: são 4,2 mil entre 1987 e 1994, deixando centenas de vítimas.
O governo tem usado a política dos assentamentos em terras públicas e áreas consideradas improdutivas e desapropriadas para fins de reforma agrária. Nos últimos 12 anos são assentadas pouco mais de 300 mil famílias, menos de 7% do que seria necessário segundo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terras (MST), que hoje lidera a mobilização social no campo . Para o MST há 4,5 milhões de famílias no Brasil para assentar. Os proprietários reagem contra as pressões e as invasões de terra do MST, também organizadas em entidades, como a União Democrática Ruralista (UDR).
Hoje se discute a eficiência da reforma agrária como solução econômica (aumento da produção) e social (aumento do emprego e maior equilíbrio entre a cidade e o campo). Para uns, a produção nas pequenas propriedades já não é mais competitiva, sobretudo na era da globalização econômica, e por isso não deveria ser estimulada. Para outros, ao contrário, as pequenas propriedades continuarão a ser responsáveis pelo maior número de empregos no campo e pela maior produção de alimentos de consumo interno.

Redemocratização - direitas ja




O Movimento pelas Diretas-Já constituiu-se num marco da História do Brasil, pois foi um dos pilares de sustentação da redemocratização, na primeira metade da década de oitenta. Em 1984, pelos quatro cantos do país, centenas de milhares de pessoas, indepentende de posições contrárias, se juntaram com um único objetivo: conquistar o direito ao voto direto para presidente da República. A ditadura militar, sob a falácia de uma revolução, instalou-se no país em 1964, e, de 1968 a 1975, foi sanguinária, valendo-se de métodos execráveis para manter o controle do sistema. A tortura, o exílio e, principalmente, o assassinato, eram mecanismos utilizados para intimidar, afastar ou acabar de vez com aqueles que lutavam pelos direitos coletivos – acima de tudo, a liberdade. Depois de 1975, a ditadura tornou-se relativamente branda e, em 1984, quando o presidente era o general João Batista Figueiredo, não foi possível impedir a chamada abertura política, àquela altura inevitável, e o estágio seguinte foi a redemocratização.
Mas, antes do júbilo da redemocratização, o Movimento pelas Diretas-Já teve as expectativas frustradas, quando o Congresso Nacional não aprovou as eleições diretas. O ranço militar, com seu conservadorismo exacerbado, não permitiu que os brasileiros pudessem escolher diretamente o presidente da República, permanecendo um jejum de democracia de mais de duas décadas.
O presidente da República deveria ser escolhido pelo Congresso Nacional, e os candidatos eram dois. Paulo Maluf, protótipo construído pela ditadura militar, representava as oligarquias que curvavam-se diante dos carrascos militares. Tancredo Neves, exemplo de resistência à ditadura militar, tinha o apoio da maioria dos brasileiros, mesmo não podendo receber seus votos. Resultado. Tancredo Neves foi eleito presidente da República, alicerçado pelo que fora construído pelos heróis que lutaram contra os desmandos dos militares, principalmente aqueles que sacrificaram a própria vida, verdadeiros mártires, e também todos que participaram, de alguma maneira, do Movimento pelas Diretas-Já. Alegria geral.
Entretanto, a alegria foi interrompida quando o presidente da República, recém-eleito, faleceu, sem ter tempo de governar o país. Fatalidade? Conspiração? Há defensores dessas duas teses, mas o fato é que, naquele momento, o país passou a ser governado por um quase desconhecido, um tal de José Ribamar Ferreira, ou José Sarney, escritor e político experiente do Maranhão, vice-presidente da República, cujo sobrenome pomposo, aristocrático, americanizado, contrastava com a infância humilde, mesmo simplória. Na verdade, o sobrenome era um apelido herdado de seu pai, que se chamava Ney e era conhecido entre os americanos que desembarcavam nos portos maranhenses, onde trabalhava, como “sir Ney” (“senhor Ney”). Pois esse quase desconhecido, José Sarney, um civil como Tancredo Neves, governou o país continental chamado Brasil, de 1986 a 1989, sob o lema “Tudo pelo Social”. Na realidade, foi uma espécie de governo transitório entre a ditadura militar e a redemocratização, uma quase escolha democrática, sem o voto direto. E em que pesem alguns desastres econômicos (quem não se lembra dos tempos negros em que a inflação pairava na estratosfera, e não havia produtos para comprar, como carne?), em seu governo, entre outras coisas, o direito à liberdade de expressão ganhou contornos consideráveis. Mas como teria sido o governo de Tancredo Neves? Nunca haverá uma resposta.

MPB eo DOPS


MPB, Bossa Nova e Jovem Guarda: como a música popular brasileira se manifestou nos tempos da ditadura no País
Ícones: Jair Rodrigues, Nara Leão e Chico Buarque no Festival de 1966. Foto:Folhapress
É comum confundir-se música popular brasileira com MPB. A primeira é muito mais ampla. Inclui tudo que é composto e cantado no País. Como sigla, trata-se de um movimento dentro da música popular brasileira. Dessa forma, nem toda música popular brasileira é MPB, mas o oposto é verdadeiro. Foi na década de 1960 que esta última surgiu. Do ponto de vista burguês, a década não começara bem, pois a Revolução Cubana abalara a hegemonia capitalista no continente, apontando alternativa à ordem burguesa e ao alinhamento mecânico com os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, se em 1960 Brasília foi inaugurada, ainda que inacabada, no ano seguinte a crise provocada pela renúncia de Jânio Quadros e o impedimento da posse de João Goulart arrefeceram esse ânimo e fizeram lembrar a instabilidade política, característica de nossa democracia. Um golpe havia sido evitado em 1954, com o suicídio de Getúlio Vargas, mas a crise de 1961 fortaleceu essa ideia, acelerando a gestação da ruptura institucional de 1964. Foi nesse momento, no início dos anos que antecederam a ação golpista de militares e da burguesia brasileira, que começou também a se constituir outro movimento na música brasileira, caracterizado exatamente por essas marcas do início da década.
MPB, Bossa Nova e Jovem Guarda
A MPB, desde cedo, procurou acompanhar as mudanças pelas quais o Brasil passava e suas composições registravam o que outros ritmos não faziam. Para que esse tipo de música aparecesse, a televisão foi indispensável. A TV Excelsior iniciou a “era dos festivais”, em 1965, quando colocou no palco, pela primeira vez, jovens que estavam produzindo músicas destoantes dos outros dois movimentos que até então dominavam o meio musical– —brasileiro: a Bossa Nova e a Jovem Guarda. Enquanto a primeira trazia uma música quase falada, intimista, cujo cenário inspirador era a zona sul carioca, a segunda guardava características dos jovens em áreas urbanas, com temas como festas, namoros etc.
A MPB, nesse sentido, rompeu com esse ideário ao incorporar temas sociais, políticos e apontar a necessidade de outro mundo, a começar por outro Brasil. Enquanto a MPB preocupava-se em refletir sobre questões de ordem político-social, a Jovem Guarda, influenciada pelos The Beatles – daí outra denominação para esse movimento, o iê-iê-iê, em referência ao Yeah! Yeah! Yeah! do grupo inglês – guardava em suas letras referências do cotidiano de um jovem, vivendo no espaço urbano e alienado dos acontecimentos pelos quais passavam o país e o mundo. Daí a menção às festas, namoros, carros, pequenos dramas e picuinhas típicas de quem tinha num pequeno romance o maior problema a ser encarado em sua vida.
Em relação à Bossa Nova, a MPB avançou para temas em que as letras até então não tratavam. De 1964 a 1968, o meio musical foi vigiado, porém, pouco admoestado pela ditadura. Os olhares estavam voltados a políticos e órgãos de imprensa. A Bossa Nova, não obstante a qualidade de seus autores e composições, teve como “matéria-prima” a paisagem urbana e temas secundários em relação à efervescência política da época. Se ela “é sal, é sol, é sul”, o que apareceu em -suas letras foram: a praia, o mar, O Barquinho, a Garota de Ipanema e assim por diante.
Ditadura, música e resistência
Os festivais de música nos anos 1960 trouxeram essa característica: juntar jovens compositores e cantores que tinham na música uma tomada de posição política. Na plateia, outros jovens, universitários e de classe média se posicionavam criticamente diante do júri, que fazia a classificação dos finalistas. É nesse sentido que em 1967, por exemplo, Roberto Carlos participa do III Festival da Record e não canta música da Jovem Guarda, mas de MPB. A música Maria, Carnaval e Cinzas, de Luiz Carlos Paraná, fala da mortalidade infantil e a desigualdade social.
A TV Excelsior, por causa do posicionamento político de seu proprietário, foi perseguida, e começou a definhar a partir do golpe de 1964, sendo definitivamente cassada no governo Médici. Enquanto isso, assistiu a suas concorrentes, a Record e a Globo, açambarcarem tudo que tinha feito até então. É por conta dessa perseguição, inclusive, que nos referimos aos “festivais da Record”, esquecendo o pioneirismo do canal 9 de São Paulo. A Globo, que iniciou suas atividades em abril de 1965, foi ocupando o espaço antes da Excelsior, inclusive com a contratação de artistas oriundos da antecessora.
Em novembro de 1968, foi criado o Conselho Superior de Censura, e, logo depois, com o Ato Institucional nº 5 (AI 5) do presidente Costa e Silva, foi instituída a censura prévia à música. Digladiando com o aparato repressor, enquanto esse último insistia no esquecimento de temas perturbadores da ordem, a música tratava de lembrá-los.
O campo da memória foi palco de disputas, e os palcos onde os músicos se apresentavam constituíram-se em campos de luta.
Lembrando o verso de Taiguara na epígrafe, e fazendo uma apropriação, a MPB traz em seu corpo as marcas do seu tempo. Tempo esse que a influenciaria para além de versos rebeldes, pois a música, num período de exceção, pode tornar-se uma tomada de posição, daí a censura, e as prisões de cantores e compositores.
Assim como a história, a memória histórica é construída socialmente, e, naquele momento, tentava-se constituir uma memória segundo os interesses das frações de classe, senão de toda classe burguesa, representadas num Estado autoritário e repressor. Manipulada a memória, a dominação de classes ficaria facilitada.
O que sobrevive, em termos de vestígios históricos, ou fontes, não é absolutamente tudo aquilo que existiu ou foi produzido no passado, mas o resultado de escolhas operadas pelas forças em conflito. Ainda que os historiadores efetuem suas escolhas, é necessário que nesse campo dos registros, onde as lutas de classes também ocorrem, os oprimidos deixem suas marcas, daí a importância das músicas e de seus autores, que expuseram de que lado estavam nessa arena.
Ainda que pareça uma batalha perdida, a guerra continuava para além dos festivais. Consolidados na música popular brasileira com uma obra que refletia as marcas de sua época, os cantores/compositores ganharam vida própria, aproveitaram a “estadia” no exterior para lançar internacionalmente suas músicas e carreiras, e, quando voltaram, continuaram a difícil tarefa de gravar suas impressões acerca daquele mundo e dos seus valores.
Talvez toda música devesse embutir essa missão, mas o fato é que, naqueles anos, no Brasil, a MPB se encarregou disso, e, após o golpe militar, as referências à ditadura, à desigualdade social e a temas de apelo popular, como reforma agrária, mortalidade infantil entre outros, apareceram em suas- letras e mesmo nos seus arranjos, ora de forma explícita, ora de maneira velada, por meio de metáforas que foram tão bem trabalhadas pelos compositores.
Com o AI 5, no entanto, os festivais de música definharam. Após a sexta-feira 13 de dezembro de 1968, censura, proibições e exílio tiraram desses palcos todos os que faziam da música um ato político, uma tomada de partido, restando aqueles que, se não defendiam explicitamente o regime, pelo menos não se comprometiam com uma mudança por meio de sua arte.

Tortura e Direitos Humanos na América Latina





Tortura e Direitos Humanos na América Latina

Na América Latina, a tortura foi bastante praticada contra índios e negros
durante o período colonial. No Brasil, tem-se que a tortura foi utilizada de forma
indiscriminada contra os escravos, estando, deste modo, vinculada à questão da
discriminação racial.

A partir de 1960, uma onda de regimes militares “direitistas” começou a
dominar boa parte da América Latina. Na Argentina, os militares assumiram o


poder com a tortura e mortes. No Brasil, as Forças Armadas tomaram o poder em 1964 e encontraram nas tentativas de guerrilhas e revolta uma desculpa para a repressão feita pelo regime militar. Também no Chile houve, em 1973, um golpe militar cujo governo durou quase 20 anos. Os elevados índices de violência e a ausência de segurança pública continuam sendo motivo de preocupação e geram instabilidade social na América Latina, afirma o último relatório da Anistia Internacional.

A partir da análise dos relatórios de cada país, é possível notar, em toda a região, uma tendência de criminalização da pobreza e dos jovens. Quadro que é agravado pela impunidade que tolera a ação de grupos de limpeza social, formados por agentes do Estado ou da sociedade civil. Também são citados atos hostis e ameaças contra os defensores dos direitos humanos.
Os países e a cultura variam, mas os problemas são similares. Neste dossiê destacamos os casos do Brasil, El Salvador e de Honduras, abordados pelo Comunidade Segura a partir de entrevistas e dados relevantes.
O relatório "O estado dos direitos humanos no mundo" foi apresentado em Londres pela secretária-geral da Anistia Internacional, Irene Khan, e analisa por regiões a vigência das garantias individuais.
O documento enfatiza a violência contra as mulheres, contra as crianças, o tráfico de armas, a pena de morte, as diferentes formas de tortura e de terrorismo, assim como a Justiça Internacional. Faz também um apelo para que os defensores dos direitos humanos possam trabalhar em paz.

Movimento operário de 1950 - 1960






No período da 2ª Guerra Mundial, o movimento pressiona o Governo Vargas para entrar na guerra ao lado dos aliados, luta contra a carestia e inicia em 1944/45, uma onda de greves contra a suspensão de direitos trabalhistas sob o argumento da mobilização de guerra.

E é justamente como resultado da guerra, pelos acordos estabelecidos pelo Brasil com os Estados Unidos para entrar na luta ao lado dos aliados, que se inicia a siderurgia nacional. Com isso, há um salto na indústria de base nacional — principalmente metalurgia — no início da década de 1950. E é de 50 a 1960 que ocorrem as grandes greves de massa, ambas em São Paulo, como a dos “300 mil” (1953) e dos “400 mil” (1957).

Esse recrudescimento do movimento operário se dá particularmente visando à reposição de perdas salariais. É que, desde que foi criado, em 1941, o salário mínimo não sofrera correção até 1954, quando Vargas — mesmo sacrificando seu pupilo ministro do Trabalho, João Goulart — anuncia o reajuste do salário mínimo no Dia 1º de Maio.

“A mobilização, em razão do suicídio de Vargas (agosto de 54), e os quebra-quebras são também resultado do movimento sindicalista pelo reajuste do mínimo. Mesmo com o reajuste, em alguns estados, como Minas Gerais, os empresários ganharam na Justiça o direito de não conceder o aumento”, esclarece Alexandre Fortes.

JK – Na segunda metade da década de 1950, com o governo JK, inicia-se o período de desenvolvimentismo associado, o que, com a expansão da oferta de empregos, em princípio, aplacaria os movimentos reivindicatórios. Segundo Fortes, no entanto, logo as mobilizações ressurgem. “Mesmo na construção de Brasília, os migrantes que para lá se deslocam — em grande número — enfrentam o emprego quando as obras estão se encerrando”, observa ele.

A década de 1960 marca a criação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e a conquista da gratificação natalina (13º salário), uma reivindicação que se arrasta desde 1945. E é a partir daí que se consolida na direita o sentimento da criação de uma “República Sindicalista”, atribuída ao presidente Jango, apressando o golpe de 1964.

Revolução Cubana e produção cultural







As iniciativas cubanas de financiar e treinar movimentos guerrilheiros, bem como a tentativa de organizar a OLAS, desagradavam o governo soviético liderado por Brejenev, contrário às tentativas de expandir revoluções na América Latina e favorável a coexistência pacífica. O ano de 1968 foi decisivo para a Revolução, já que marcou o alinhamento político do governo cubano com a União Soviética, sobretudo em relação a sua política externa. A invasão das tropas soviéticas em Praga, na Checoslováquia, para reprimir um movimento que propunha um socialismo com democracia e mais humano, foi apoiada pelo governo de Fidel Castro. Com o assassinato de Che Guevara na Bolívia, o governo cubano aproximou-se mais da União Soviética, tornando-se dependente em relação à grande potência socialista e aplicando a política de socialismo num só país.

Ao longo dos anos 70, consolidou-se em Cuba um governo autoritário e repressivo, que suprimiu a liberdade de criação e de expressão, além de limitar em muito a participação democrática efetiva da maioria da população nos órgãos de poder. A falta de liberdade política e cultural, expressa no regime de partido único do Partido Comunista Cubano, na centralização do poder nas mãos de Fidel Castro, no controle dos meios de comunicação e na censura de produções culturais também se constituíram em problemas recorrentes ao longo dos anos.

A definição da política cultural oficial foi elaborada principalmente pelos dirigentes políticos, que determinaram o espaço dos intelectuais na Revolução Cubana. A política cultural foi uma forma de buscar controlar as produções intelectuais e artísticas, por meio de estímulos e premiações para a criação da arte revolucionária. Nos anos 70, a censura e o endurecimento no campo intelectual atingiram o seu auge. Apesar da abertura no campo cultural que vem se desenvolvendo desde meados dos anos 80, ela não foi acompanhada por reformas políticas, o que impede que a liberdade de criação e expressão em Cuba seja plena. A censura, as diretrizes oficiais, o acesso restrito à informação, à imprensa estrangeira, às viagens internacionais e à internet, permanecem como práticas dos altos funcionários do governo cubano, o que impede que o trabalho intelectual em Cuba seja totalmente livre. A ampla liberdade de criação e expressão segue sendo uma questão não resolvida pela política oficial da Revolução Cubana.

O processo de burocratização dos dirigentes teve como conseqüência a consolidação de divisões sociais e de privilégios e regalias para poucos, enquanto a maioria da população cubana conviveu com racionamento e dificuldades no abastecimento de gêneros de primeira necessidade. Com o fim da União Soviética, em 1991, o governo cubano foi obrigado a promover mudanças para enfrentar a grave crise econômica. O colapso do bloco soviético deixou a ilha em situação deplorável, com falta de combustível, alimento e de produtos industrializados. Denominado de “período especial”, significou uma abertura ao capital estrangeiro, que investiu, sobretudo, no turismo. Nessa fase, extinguiu-se o monopólio do comércio exterior e legalizou-se o dólar, o que acentuou as desigualdades sociais entre aqueles que têm acesso ou não à moeda estrangeira. Com a chegada de Chavez ao poder na Venezuela, acordos comerciais foram estabelecidos entre os dois países e o fornecimento do petróleo venezuelano aliviou a situação de crise da economia cubana. Entretanto, muitas questões ainda não foram resolvidas na ilha, como a sucessão de Fidel Castro, que se afastou do poder em julho de 2007, por motivos de saúde, e delegou-o provisoriamente a Raúl Castro, seu irmão. Resta-nos esperar para saber como serão os próximos passos da sucessão de Fidel e do futuro de Cuba.