sábado, 10 de novembro de 2012

O Neoliberalismo


Neoliberalismo
O capitalismo é movido pela tendência à generalização da forma-mercadoria, a máxima ampliação possível do âmbito da produção de mercadorias como proporção do produto da socedade como um todo. Liberalismo era a forma ideológica precípua no primeiro estágio, do capitalismo caracterizado por elevados ritmos de expansão da produção.
A exaustão do primeiro estágio de desenvolvimento deu lugar ao estágio. Nesse, em lugar de rápida expansão, o processo predominante é o progresso técnico, única fonte de expansão da produção, vale dizer, de acumulação capitalista. Liberalismo dá lugar à social-democracia como forma política e ideológica preponderante desse estágio, que tem como um de seus suportes a elevação dos níveis de reprodução da força de trabalho, necessário tanto para acompanhar os requisitos de qualificação da forá de trabalho impostas pela evolução das técnicas de produção, quanto para assegurar mercado de escoamento da produção. Concomitantemente amplia-se o ãmbito de intervenção do Estado na organização da produção.
O estágio intensivo entra por sua vez em crise após a exaustão do 'boom' da reconstrução pós-guerra no final da década de 1960. Na dialética da forma-mercadoria que regula o capitalismo, o crescimento paulatino da intervenção do Estado, já prenuncia um problema estrutral para o capitalismo, mas essa intervenção cresce particularmente acelerado no estágio intensivo, a ponto de colocar a própria primazia da forma-mercadoria (vale dizer, o próprio capitalismo) em xeque. O âmbito do mercado --refletido também em superprodução, recessão ou queda da taxa de lucro-- vai se retraindo inexoravelmente.
Neoliberalismo é a resposta à crise do capitalismo decorrente da expansão da intervenção do Estado, antagônica à forma mercadoria, ainda que necessária para sustentá-la. Após alguns anos de diagnóstico e de tateações (Crozier et alii, 1975), o n~ toma forma no final da década de 1970 como 'Reaganismo' e 'Thatcherismo', e consiste essencialmente em uma tentativa de recompor a primazia, e recuperar o âmbito, da produção de mercadorias. Renegando as formas social-democratas que acompanham o estágio intensivo, nega a crise estrutural e histórica do capitalismo e se volta às origens desse, do tempo do liberalismo -- daí o nome de neo-liiberalismo. 
As políticas neoliberais perseguidas ao final dos anos 70 e no começo dos 80 por parte dos governos nacionais dos países centrais constituem precisamente uma tentativa (crescentemente desesperada) de 'remercadorização’ de suas economias.
O Estado capitalista tem que tentar isso, uma vez que assegurar as condições da produção de mercadorias é sua própria razão de ser, mesmo se, assim fazendo, Ihe escapa inteiramente o fato de que a negação da negação da forma-mercadoria não pode restabelecer essa última: privatização não é o mesmo que mercadorização.

 
O arsenal do neoliberalismo inclui o farto uso de neologismos que procuram destruir a perspectiva histórica dando novos nomes a velhos processos ou conferir respeito a pseudoconceitos  Surgem, assim, o pós-moderno, o desenvolvimento sustentável, os movimentos sociais urbanos, a exclusão social, os atores(sociais), as ong-s, a globalização, o planejamento estratégico..., que procuram encobrir, ao invés de revelar, a natureza do capitalismo contemporâneo.

A questão agraria na nova republica





Revisão da estrutura agrária de um País com objetivo de realizar uma distribuição mais igualitária da terra e da renda agrícola. No Brasil, a questão da terra é hoje um grave problema social por causa da grande desigualdade na distribuição da propriedade. Envolvendo promessas do Governo, acusações entre os fazendeiros e trabalhadores sem-terra e muita violência, o problema tem suas origens na época colonial.
Das sesmarias à Lei de Terras - durante a colonização, Portugal aplica no Brasil a legislação e a política agrária praticadas na metrópole desde o século XIV. Baseia-se na doação de terras de domínio público - terras devolutas - a particulares no regime de sesmaria, ou seja, na condição de cultivá-las dentro de certo prazo. O objetivo é tanto o aumento da produção agrícola quanto a ocupação territorial. No Brasil, a concessão da sesmarias é atribuída aos donatários e governantes das capitanias e depois também às câmaras municipais. Enquanto na metrópole as concessões eram pequenas, na colônia, em razão das grandes dimensões de território e do não-reconhecimento dos direitos dos índios sobre suas terras, as sesmarias viram imensos latifúndios.
O governo português tenta controlar esse crescimento excessivo das propriedades, quase nunca acompanhado por igual crescimento da produção. Em 1695 limita-se o tamanho das sesmarias ao máximo de 4 léguas de comprimento por 1 légua largura (cerca de 24 Km², ou 2.400 há). Na prática isso não funciona, porque muitas terras são ocupadas em regime de posse (direito de propriedade decorrente da exploração efetiva e duradoura de terras não ocupadas e raramente legalizadas. Além disso, na agricultura extensiva da colônia, a produção se realiza pela ocupação contínua de novas áreas, fazendo com que as propriedades rurais cresçam sempre mais em tamanho do que em produtividade. Em 1822, às vésperas da independência, o regente Dom Pedro extingue o regime das sesmarias.
No Império, as principais medidas de regulamentação de acesso e posse legal da terra são tomadas na Lei de Terras, de 18 de Setembro de 1850. Ela estabelece que as terras devolutas só podem ser legalmente adquiridas por compra em leilões públicos e que as terras ou posseiros somente devem ser legalizadas na parte efetivamente ocupada e explorada para o sustento da família proprietária. O objetivo é ordenar a propriedade agrária e criar um mercado de terras, pois, com o fim do tráfico de escravos, elas se tornariam o capital que iria substituir o investimento feito em mão-de-obra.
Terras na República - Essa lei não impede o crescimento da concentração agrária. A ocupação de novas terras continua a acontecer de forma irregular, e, às vezes, violenta pelos grandes proprietários para quem a terra agora, além de símbolo de prestígio e poder, é uma reserva de valor. Já os pequenos proprietários, em geral posseiros, encontram dificuldade para legalizar a posse e não tem meios de disputar o mercado de terras - nas áreas de expansão agrícola, porque a terra é valorizada, e nas áreas pioneiras, porque a terra é dominada pelos "coronéis" latifundiários ou seus prepostos.
Com a República, essa situação não muda. Na República Velha, os estados passam a administrar as terras públicas, facilitando sua apropriação pelas oligarquias e coronéis. Em 1920, 4,5% dos proprietários possuem a metade das propriedades rurais do país. Esse processo gera a redução das áreas de produção de subsistência, fazendo a nação importar alimentos e a expansão descontrolada das áreas agroesxportadoras, levando às crises de superprodução, como a do café entre os anos 20 e 30. Após a Revolução de 1930 é criado o Ministérios da Agricultura, mas durante toda a era Vargas os problemas agrários ficam em segundo plano, inclusive no Estado Novo, quando é instituída a legislação trabalhista para os trabalhadores urbanos.
A reforma agrária - A partir das décadas de 40 e 50, o tema reforma agrária ganha destaque, a crescente modernização da agricultura e da industrialização do país intensificam o êxodo rural, as migrações regionais e a concentração fundiária. Por outro lado a organização dos trabalhadores rurais em sindicatos e federações faz crescer os movimentos reivindicatórios no campo, como as Ligas Camponesas. Para o estado, a questão da terra vira um desafio político e para os partidos, uma bandeira ideológica.
Nos anos 60, o governo de João Goulart anuncia o lançamento das "reformas de base", começando pela reforma agrária. Logo após a implantação do Regime Militar de 1964 é criado o Estatuto da Terra (1964) e, em 1970, o Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA), para tratar da questão agrária. Os resultados práticos são pequenos. Com a política de incentivos fiscais dos anos 70 para os grandes empreendimentos agropecuários e extrativistas, a concentração aumenta mais, sobretudo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, enquanto os projetos do INCRA, como as agrovilas da Amazônia, não se viabilizam.
Na década de 80, os problemas da terra se agravam. A concentração fundiária continua grande: enquanto 4,5 milhões de pequenas propriedades de até 100 ha têm apenas 20% de toda a área e empregam 78% da força de trabalho rural, 50 mil grandes propriedades com mais de 1.000 ha ocupam 45% da área e absorvem 4% da mão-de-obra. Com o fim do "milagre econômico" e a recessão há um grande aumento do desemprego e do êxodo rural. Com isso cresce o número de conflitos violentos no campo: são 4,2 mil entre 1987 e 1994, deixando centenas de vítimas.
O governo tem usado a política dos assentamentos em terras públicas e áreas consideradas improdutivas e desapropriadas para fins de reforma agrária. Nos últimos 12 anos são assentadas pouco mais de 300 mil famílias, menos de 7% do que seria necessário segundo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terras (MST), que hoje lidera a mobilização social no campo . Para o MST há 4,5 milhões de famílias no Brasil para assentar. Os proprietários reagem contra as pressões e as invasões de terra do MST, também organizadas em entidades, como a União Democrática Ruralista (UDR).
Hoje se discute a eficiência da reforma agrária como solução econômica (aumento da produção) e social (aumento do emprego e maior equilíbrio entre a cidade e o campo). Para uns, a produção nas pequenas propriedades já não é mais competitiva, sobretudo na era da globalização econômica, e por isso não deveria ser estimulada. Para outros, ao contrário, as pequenas propriedades continuarão a ser responsáveis pelo maior número de empregos no campo e pela maior produção de alimentos de consumo interno.

Redemocratização - direitas ja




O Movimento pelas Diretas-Já constituiu-se num marco da História do Brasil, pois foi um dos pilares de sustentação da redemocratização, na primeira metade da década de oitenta. Em 1984, pelos quatro cantos do país, centenas de milhares de pessoas, indepentende de posições contrárias, se juntaram com um único objetivo: conquistar o direito ao voto direto para presidente da República. A ditadura militar, sob a falácia de uma revolução, instalou-se no país em 1964, e, de 1968 a 1975, foi sanguinária, valendo-se de métodos execráveis para manter o controle do sistema. A tortura, o exílio e, principalmente, o assassinato, eram mecanismos utilizados para intimidar, afastar ou acabar de vez com aqueles que lutavam pelos direitos coletivos – acima de tudo, a liberdade. Depois de 1975, a ditadura tornou-se relativamente branda e, em 1984, quando o presidente era o general João Batista Figueiredo, não foi possível impedir a chamada abertura política, àquela altura inevitável, e o estágio seguinte foi a redemocratização.
Mas, antes do júbilo da redemocratização, o Movimento pelas Diretas-Já teve as expectativas frustradas, quando o Congresso Nacional não aprovou as eleições diretas. O ranço militar, com seu conservadorismo exacerbado, não permitiu que os brasileiros pudessem escolher diretamente o presidente da República, permanecendo um jejum de democracia de mais de duas décadas.
O presidente da República deveria ser escolhido pelo Congresso Nacional, e os candidatos eram dois. Paulo Maluf, protótipo construído pela ditadura militar, representava as oligarquias que curvavam-se diante dos carrascos militares. Tancredo Neves, exemplo de resistência à ditadura militar, tinha o apoio da maioria dos brasileiros, mesmo não podendo receber seus votos. Resultado. Tancredo Neves foi eleito presidente da República, alicerçado pelo que fora construído pelos heróis que lutaram contra os desmandos dos militares, principalmente aqueles que sacrificaram a própria vida, verdadeiros mártires, e também todos que participaram, de alguma maneira, do Movimento pelas Diretas-Já. Alegria geral.
Entretanto, a alegria foi interrompida quando o presidente da República, recém-eleito, faleceu, sem ter tempo de governar o país. Fatalidade? Conspiração? Há defensores dessas duas teses, mas o fato é que, naquele momento, o país passou a ser governado por um quase desconhecido, um tal de José Ribamar Ferreira, ou José Sarney, escritor e político experiente do Maranhão, vice-presidente da República, cujo sobrenome pomposo, aristocrático, americanizado, contrastava com a infância humilde, mesmo simplória. Na verdade, o sobrenome era um apelido herdado de seu pai, que se chamava Ney e era conhecido entre os americanos que desembarcavam nos portos maranhenses, onde trabalhava, como “sir Ney” (“senhor Ney”). Pois esse quase desconhecido, José Sarney, um civil como Tancredo Neves, governou o país continental chamado Brasil, de 1986 a 1989, sob o lema “Tudo pelo Social”. Na realidade, foi uma espécie de governo transitório entre a ditadura militar e a redemocratização, uma quase escolha democrática, sem o voto direto. E em que pesem alguns desastres econômicos (quem não se lembra dos tempos negros em que a inflação pairava na estratosfera, e não havia produtos para comprar, como carne?), em seu governo, entre outras coisas, o direito à liberdade de expressão ganhou contornos consideráveis. Mas como teria sido o governo de Tancredo Neves? Nunca haverá uma resposta.

MPB eo DOPS


MPB, Bossa Nova e Jovem Guarda: como a música popular brasileira se manifestou nos tempos da ditadura no País
Ícones: Jair Rodrigues, Nara Leão e Chico Buarque no Festival de 1966. Foto:Folhapress
É comum confundir-se música popular brasileira com MPB. A primeira é muito mais ampla. Inclui tudo que é composto e cantado no País. Como sigla, trata-se de um movimento dentro da música popular brasileira. Dessa forma, nem toda música popular brasileira é MPB, mas o oposto é verdadeiro. Foi na década de 1960 que esta última surgiu. Do ponto de vista burguês, a década não começara bem, pois a Revolução Cubana abalara a hegemonia capitalista no continente, apontando alternativa à ordem burguesa e ao alinhamento mecânico com os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, se em 1960 Brasília foi inaugurada, ainda que inacabada, no ano seguinte a crise provocada pela renúncia de Jânio Quadros e o impedimento da posse de João Goulart arrefeceram esse ânimo e fizeram lembrar a instabilidade política, característica de nossa democracia. Um golpe havia sido evitado em 1954, com o suicídio de Getúlio Vargas, mas a crise de 1961 fortaleceu essa ideia, acelerando a gestação da ruptura institucional de 1964. Foi nesse momento, no início dos anos que antecederam a ação golpista de militares e da burguesia brasileira, que começou também a se constituir outro movimento na música brasileira, caracterizado exatamente por essas marcas do início da década.
MPB, Bossa Nova e Jovem Guarda
A MPB, desde cedo, procurou acompanhar as mudanças pelas quais o Brasil passava e suas composições registravam o que outros ritmos não faziam. Para que esse tipo de música aparecesse, a televisão foi indispensável. A TV Excelsior iniciou a “era dos festivais”, em 1965, quando colocou no palco, pela primeira vez, jovens que estavam produzindo músicas destoantes dos outros dois movimentos que até então dominavam o meio musical– —brasileiro: a Bossa Nova e a Jovem Guarda. Enquanto a primeira trazia uma música quase falada, intimista, cujo cenário inspirador era a zona sul carioca, a segunda guardava características dos jovens em áreas urbanas, com temas como festas, namoros etc.
A MPB, nesse sentido, rompeu com esse ideário ao incorporar temas sociais, políticos e apontar a necessidade de outro mundo, a começar por outro Brasil. Enquanto a MPB preocupava-se em refletir sobre questões de ordem político-social, a Jovem Guarda, influenciada pelos The Beatles – daí outra denominação para esse movimento, o iê-iê-iê, em referência ao Yeah! Yeah! Yeah! do grupo inglês – guardava em suas letras referências do cotidiano de um jovem, vivendo no espaço urbano e alienado dos acontecimentos pelos quais passavam o país e o mundo. Daí a menção às festas, namoros, carros, pequenos dramas e picuinhas típicas de quem tinha num pequeno romance o maior problema a ser encarado em sua vida.
Em relação à Bossa Nova, a MPB avançou para temas em que as letras até então não tratavam. De 1964 a 1968, o meio musical foi vigiado, porém, pouco admoestado pela ditadura. Os olhares estavam voltados a políticos e órgãos de imprensa. A Bossa Nova, não obstante a qualidade de seus autores e composições, teve como “matéria-prima” a paisagem urbana e temas secundários em relação à efervescência política da época. Se ela “é sal, é sol, é sul”, o que apareceu em -suas letras foram: a praia, o mar, O Barquinho, a Garota de Ipanema e assim por diante.
Ditadura, música e resistência
Os festivais de música nos anos 1960 trouxeram essa característica: juntar jovens compositores e cantores que tinham na música uma tomada de posição política. Na plateia, outros jovens, universitários e de classe média se posicionavam criticamente diante do júri, que fazia a classificação dos finalistas. É nesse sentido que em 1967, por exemplo, Roberto Carlos participa do III Festival da Record e não canta música da Jovem Guarda, mas de MPB. A música Maria, Carnaval e Cinzas, de Luiz Carlos Paraná, fala da mortalidade infantil e a desigualdade social.
A TV Excelsior, por causa do posicionamento político de seu proprietário, foi perseguida, e começou a definhar a partir do golpe de 1964, sendo definitivamente cassada no governo Médici. Enquanto isso, assistiu a suas concorrentes, a Record e a Globo, açambarcarem tudo que tinha feito até então. É por conta dessa perseguição, inclusive, que nos referimos aos “festivais da Record”, esquecendo o pioneirismo do canal 9 de São Paulo. A Globo, que iniciou suas atividades em abril de 1965, foi ocupando o espaço antes da Excelsior, inclusive com a contratação de artistas oriundos da antecessora.
Em novembro de 1968, foi criado o Conselho Superior de Censura, e, logo depois, com o Ato Institucional nº 5 (AI 5) do presidente Costa e Silva, foi instituída a censura prévia à música. Digladiando com o aparato repressor, enquanto esse último insistia no esquecimento de temas perturbadores da ordem, a música tratava de lembrá-los.
O campo da memória foi palco de disputas, e os palcos onde os músicos se apresentavam constituíram-se em campos de luta.
Lembrando o verso de Taiguara na epígrafe, e fazendo uma apropriação, a MPB traz em seu corpo as marcas do seu tempo. Tempo esse que a influenciaria para além de versos rebeldes, pois a música, num período de exceção, pode tornar-se uma tomada de posição, daí a censura, e as prisões de cantores e compositores.
Assim como a história, a memória histórica é construída socialmente, e, naquele momento, tentava-se constituir uma memória segundo os interesses das frações de classe, senão de toda classe burguesa, representadas num Estado autoritário e repressor. Manipulada a memória, a dominação de classes ficaria facilitada.
O que sobrevive, em termos de vestígios históricos, ou fontes, não é absolutamente tudo aquilo que existiu ou foi produzido no passado, mas o resultado de escolhas operadas pelas forças em conflito. Ainda que os historiadores efetuem suas escolhas, é necessário que nesse campo dos registros, onde as lutas de classes também ocorrem, os oprimidos deixem suas marcas, daí a importância das músicas e de seus autores, que expuseram de que lado estavam nessa arena.
Ainda que pareça uma batalha perdida, a guerra continuava para além dos festivais. Consolidados na música popular brasileira com uma obra que refletia as marcas de sua época, os cantores/compositores ganharam vida própria, aproveitaram a “estadia” no exterior para lançar internacionalmente suas músicas e carreiras, e, quando voltaram, continuaram a difícil tarefa de gravar suas impressões acerca daquele mundo e dos seus valores.
Talvez toda música devesse embutir essa missão, mas o fato é que, naqueles anos, no Brasil, a MPB se encarregou disso, e, após o golpe militar, as referências à ditadura, à desigualdade social e a temas de apelo popular, como reforma agrária, mortalidade infantil entre outros, apareceram em suas- letras e mesmo nos seus arranjos, ora de forma explícita, ora de maneira velada, por meio de metáforas que foram tão bem trabalhadas pelos compositores.
Com o AI 5, no entanto, os festivais de música definharam. Após a sexta-feira 13 de dezembro de 1968, censura, proibições e exílio tiraram desses palcos todos os que faziam da música um ato político, uma tomada de partido, restando aqueles que, se não defendiam explicitamente o regime, pelo menos não se comprometiam com uma mudança por meio de sua arte.

Tortura e Direitos Humanos na América Latina





Tortura e Direitos Humanos na América Latina

Na América Latina, a tortura foi bastante praticada contra índios e negros
durante o período colonial. No Brasil, tem-se que a tortura foi utilizada de forma
indiscriminada contra os escravos, estando, deste modo, vinculada à questão da
discriminação racial.

A partir de 1960, uma onda de regimes militares “direitistas” começou a
dominar boa parte da América Latina. Na Argentina, os militares assumiram o


poder com a tortura e mortes. No Brasil, as Forças Armadas tomaram o poder em 1964 e encontraram nas tentativas de guerrilhas e revolta uma desculpa para a repressão feita pelo regime militar. Também no Chile houve, em 1973, um golpe militar cujo governo durou quase 20 anos. Os elevados índices de violência e a ausência de segurança pública continuam sendo motivo de preocupação e geram instabilidade social na América Latina, afirma o último relatório da Anistia Internacional.

A partir da análise dos relatórios de cada país, é possível notar, em toda a região, uma tendência de criminalização da pobreza e dos jovens. Quadro que é agravado pela impunidade que tolera a ação de grupos de limpeza social, formados por agentes do Estado ou da sociedade civil. Também são citados atos hostis e ameaças contra os defensores dos direitos humanos.
Os países e a cultura variam, mas os problemas são similares. Neste dossiê destacamos os casos do Brasil, El Salvador e de Honduras, abordados pelo Comunidade Segura a partir de entrevistas e dados relevantes.
O relatório "O estado dos direitos humanos no mundo" foi apresentado em Londres pela secretária-geral da Anistia Internacional, Irene Khan, e analisa por regiões a vigência das garantias individuais.
O documento enfatiza a violência contra as mulheres, contra as crianças, o tráfico de armas, a pena de morte, as diferentes formas de tortura e de terrorismo, assim como a Justiça Internacional. Faz também um apelo para que os defensores dos direitos humanos possam trabalhar em paz.

Movimento operário de 1950 - 1960






No período da 2ª Guerra Mundial, o movimento pressiona o Governo Vargas para entrar na guerra ao lado dos aliados, luta contra a carestia e inicia em 1944/45, uma onda de greves contra a suspensão de direitos trabalhistas sob o argumento da mobilização de guerra.

E é justamente como resultado da guerra, pelos acordos estabelecidos pelo Brasil com os Estados Unidos para entrar na luta ao lado dos aliados, que se inicia a siderurgia nacional. Com isso, há um salto na indústria de base nacional — principalmente metalurgia — no início da década de 1950. E é de 50 a 1960 que ocorrem as grandes greves de massa, ambas em São Paulo, como a dos “300 mil” (1953) e dos “400 mil” (1957).

Esse recrudescimento do movimento operário se dá particularmente visando à reposição de perdas salariais. É que, desde que foi criado, em 1941, o salário mínimo não sofrera correção até 1954, quando Vargas — mesmo sacrificando seu pupilo ministro do Trabalho, João Goulart — anuncia o reajuste do salário mínimo no Dia 1º de Maio.

“A mobilização, em razão do suicídio de Vargas (agosto de 54), e os quebra-quebras são também resultado do movimento sindicalista pelo reajuste do mínimo. Mesmo com o reajuste, em alguns estados, como Minas Gerais, os empresários ganharam na Justiça o direito de não conceder o aumento”, esclarece Alexandre Fortes.

JK – Na segunda metade da década de 1950, com o governo JK, inicia-se o período de desenvolvimentismo associado, o que, com a expansão da oferta de empregos, em princípio, aplacaria os movimentos reivindicatórios. Segundo Fortes, no entanto, logo as mobilizações ressurgem. “Mesmo na construção de Brasília, os migrantes que para lá se deslocam — em grande número — enfrentam o emprego quando as obras estão se encerrando”, observa ele.

A década de 1960 marca a criação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e a conquista da gratificação natalina (13º salário), uma reivindicação que se arrasta desde 1945. E é a partir daí que se consolida na direita o sentimento da criação de uma “República Sindicalista”, atribuída ao presidente Jango, apressando o golpe de 1964.

Revolução Cubana e produção cultural







As iniciativas cubanas de financiar e treinar movimentos guerrilheiros, bem como a tentativa de organizar a OLAS, desagradavam o governo soviético liderado por Brejenev, contrário às tentativas de expandir revoluções na América Latina e favorável a coexistência pacífica. O ano de 1968 foi decisivo para a Revolução, já que marcou o alinhamento político do governo cubano com a União Soviética, sobretudo em relação a sua política externa. A invasão das tropas soviéticas em Praga, na Checoslováquia, para reprimir um movimento que propunha um socialismo com democracia e mais humano, foi apoiada pelo governo de Fidel Castro. Com o assassinato de Che Guevara na Bolívia, o governo cubano aproximou-se mais da União Soviética, tornando-se dependente em relação à grande potência socialista e aplicando a política de socialismo num só país.

Ao longo dos anos 70, consolidou-se em Cuba um governo autoritário e repressivo, que suprimiu a liberdade de criação e de expressão, além de limitar em muito a participação democrática efetiva da maioria da população nos órgãos de poder. A falta de liberdade política e cultural, expressa no regime de partido único do Partido Comunista Cubano, na centralização do poder nas mãos de Fidel Castro, no controle dos meios de comunicação e na censura de produções culturais também se constituíram em problemas recorrentes ao longo dos anos.

A definição da política cultural oficial foi elaborada principalmente pelos dirigentes políticos, que determinaram o espaço dos intelectuais na Revolução Cubana. A política cultural foi uma forma de buscar controlar as produções intelectuais e artísticas, por meio de estímulos e premiações para a criação da arte revolucionária. Nos anos 70, a censura e o endurecimento no campo intelectual atingiram o seu auge. Apesar da abertura no campo cultural que vem se desenvolvendo desde meados dos anos 80, ela não foi acompanhada por reformas políticas, o que impede que a liberdade de criação e expressão em Cuba seja plena. A censura, as diretrizes oficiais, o acesso restrito à informação, à imprensa estrangeira, às viagens internacionais e à internet, permanecem como práticas dos altos funcionários do governo cubano, o que impede que o trabalho intelectual em Cuba seja totalmente livre. A ampla liberdade de criação e expressão segue sendo uma questão não resolvida pela política oficial da Revolução Cubana.

O processo de burocratização dos dirigentes teve como conseqüência a consolidação de divisões sociais e de privilégios e regalias para poucos, enquanto a maioria da população cubana conviveu com racionamento e dificuldades no abastecimento de gêneros de primeira necessidade. Com o fim da União Soviética, em 1991, o governo cubano foi obrigado a promover mudanças para enfrentar a grave crise econômica. O colapso do bloco soviético deixou a ilha em situação deplorável, com falta de combustível, alimento e de produtos industrializados. Denominado de “período especial”, significou uma abertura ao capital estrangeiro, que investiu, sobretudo, no turismo. Nessa fase, extinguiu-se o monopólio do comércio exterior e legalizou-se o dólar, o que acentuou as desigualdades sociais entre aqueles que têm acesso ou não à moeda estrangeira. Com a chegada de Chavez ao poder na Venezuela, acordos comerciais foram estabelecidos entre os dois países e o fornecimento do petróleo venezuelano aliviou a situação de crise da economia cubana. Entretanto, muitas questões ainda não foram resolvidas na ilha, como a sucessão de Fidel Castro, que se afastou do poder em julho de 2007, por motivos de saúde, e delegou-o provisoriamente a Raúl Castro, seu irmão. Resta-nos esperar para saber como serão os próximos passos da sucessão de Fidel e do futuro de Cuba.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Horror Atomico - 2° Guerra mundial


Em agosto o mundo relembra com muito pesar os 67 anos do maior crime de guerra já desferido contra a humanidade: o holocausto nuclear contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Crime do qual seus culpados jamais foram sequer acusados, muito pelo contrário, foram saudados como heróis por terem vencido e acabado com a guerra. Mais do que isso, graças a uma eficiente campanha de propaganda, tiveram êxito em fazer com que muitos não vissem os ataques nucleares como crimes de guerra e, por incrível que possa parecer, desconsiderassem o fato de que, em toda a história da humanidade, eles foram a única nação a despejar bombas atômicas em civis. Estamos falando, é claro, dos Estados Unidos da América.
Este post vai tratar brevemente do assunto e utilizará como referência O livro negro dos Estados Unidos, de Peter Scowen, que pesquisou sobre os crimes perpetrados contra Hiroshima e Nagasaki em documentos públicos estadunidenses considerados ultra-secretos e que foram há alguns anos foram abertos à população.
150 mil civis inocentes são condenados à morte por Harry Truman. 
Em Agosto de 1945 os Estados Unidos da América entraram para a história mundial por ser a primeira e única nação a despejar o terror atômico sobre enormes populações de civis. Com a II guerra mundial praticamente acabada e sem ter podido justificar o gasto de 2.6 bilhões de dólares no Projeto Manhattan (projeto de construção da bomba atômica), Harry Truman busca oportunidades para jogar uma, ou quem sabe até mais, de suas bombas envenenadas sobre cidades inimigas e demonstrar ao mundo o tamanho do poder que os Estados Unidos detinham na mão.
Capa de O Livro Negro dos EUA, de Peter Scowen
O povo estadunidense já estava sendo “envenenado” há muito tempo por sua mídia tendenciosa que os fazia crer que a bomba atômica daria fim a uma guerra e salvaria vidas, já que seus filhos retornariam ao seus lares. De acordo com Peter Scowen:
“(…)para os estadunidenses, a detonação das bombas em Hiroshima e Nagasaki foram ações militares realizadas contra uma nação despótica que só podia culpar a si mesmo pelo sofrimento de seu povo. (…) Havia até um fervor religioso no desempenho estadunidense, pelo menos na cabeça de Truman: “… Agradecemos a Deus por [a bomba] ter vindo a nós ao invés de nossos inimigos; e oramos para que Ele nos guie para usa-la a Sua maneira e com Seus propósitos…” .
Pior que isso, só mesmo uma reveladora pesquisa que mostra o desejo dos estadunidenses em substituir um genocídio por outro. Ainda de acordo com Scowen, “…Uma pesquisa do Gallup feita em dezembro de 1944 revelou que 13% dos estadunidenses eram a favor da eliminação do povo japonês por meio do genocídio…” (Fonte: LIFTON, Robert Jay; MITCHEL, Greg. Hiroshima in America: Fifty years of denial. Nova York: HarperCollins, 1996, p. 133)
Infelizmente para os planos de Truman, a Alemanha havia assinado rendição incondicional em Maio de 1945 logo após o suicídio de Adolf Hitler. A Itália já havia se rendido anteriormente quando da prisão e assassinato de Mussolini. Naquele momento só restara o Japão. Ao ver-se sem muitas alternativas para concretizar seus planos, Truman se apega na última oportunidade que lhe apareceu ao alegar a não rendição incondicional do Japão, que insistia em manter seu reverenciado imperador. Grandes estrategistas de guerra desaconselharam o presidente a utilizar as armas atômicas, propondo como alternativa um grande bloqueio marítimo, aliado à entrada da Rússia na frente do Pacífico e mais os bombardeios focados em alvos militares.
De acordo com esses especialistas, essas manobras seriam suficientes para acabar com a guerra até Julho de 1945. Mesmo assim, Truman simplesmente ignorou-os e, utilizando o mote da não rendição incondicional, decidiu o destino de duas cidades e centenas de milhares de vidas humanas.
Alvos escolhidos: Hiroshima e Nagasaki
O plano original previa ataques com bombas atômicas a quatro cidades japonesas. O comitê de alvos do projeto Manhattan decidira atacar Hiroshima, pois segundo as minutas das reuniões desse comitê, em razão de seu tamanho e planta, “… grande parte da cidade seria extensamente danificada…”, Nagasaki e Kyoto, pois, ainda de acordo com essas minutas, Kyoto “…era um centro intelectual do Japão e seu povo é mais capaz de avaliar o significado de uma arma assim…” 1
Foi assim que, no fatídico dia 06 de Agosto de 1945, movidos além de tudo por um sentimento indissimulável de vingança pelo ataque japonês à base militar de Pearl Harbor, aviões estadunidenses se aproximaram do primeiro alvo a sofrer os horrores das armas nucleares. Hiroshima, a então sétima maior cidade japonesa, com 350 mil habitantes, foi atacada por Little Boy, que até o fim do ano de 1945, decretou a morte de aproximadamente 150 mil japoneses, dos quais apenas 20 mil eram militares.
Little Boy, bomba que caiu sobre a cidade de Hiroshima e decretou a morte de 150 mil japoneses
Não satisfeitos com tamanha atrocidade e apenas três dias depois do primeiro ataque, como se fosse possível preparar uma declaração total de rendição incondicional em três dias, os estadunidenses atacaram a segunda cidade-alvo no dia 09 de agosto. Nagasaki e seus 175 mil habitantes foram a vítima de Fat Man, segunda e mais poderosa bomba, que vitimou aproximadamente 70 mil seres humanos na contabilidade macabra feita em dezembro de 1945.
Em uma comparação meramente ilustrativa, é como se nos ataques de 11 de Setembro, ao invés de terem morrido três mil pessoas, aproximadamente quatro milhões de nova-iorquinos tivessem perdido sua vida no World Trade Center. E isso não é tudo, pois os efeitos da bomba não são apenas a morte e a destruição imediatas. Até hoje continuam morrendo pessoas vítimas de câncer herdado geneticamente de seus pais e avós, além de ser possível encontrarmos ainda hoje, milhares de pessoas com deformações físicas, câncer congênito, problemas de esterilidade e outras doenças decorrentes da liberação radioativa sobre essas cidades em 1945.
De acordo com estudos realizados nos escombros das cidades, praticamente todas as pessoas que estavam até 1 km do centro da explosão foram mortas instantaneamente (86%). As bombas explodiram nos centros das cidades e pulverizaram escolas, escritórios, prisões, lares, igrejas e hospitais. No centro do ataque, tudo virou pó, não havia cadáveres. Mais longe do ponto zero havia corpos espalhados por toda parte, inclusive de bebês e crianças.
Peter Scowen, conta em seu livro que o exército japonês enviou Yosuke Yamahata para fotografar Nagasaki no dia seguinte ao bombardeio.
“Suas fotos mostram uma cidade completamente aplainada, homogeneamente alisada. (…) Ele tirou fotos de uma mãe morrendo de envenenamento radioativo e amamentando seu bebê, também à morte; fotos de fileiras de cadáveres, pais tentando, inutilmente, cuidar das queimaduras no corpinho de seus filhos. Yamahata morreu de câncer em 1966, com 48 anos”.
Foto flagra a agonia do garoto que frequentava a escola quando foi carbonizado pelos raios de calor da bomba atômica
Foto tirada sete anos após o bombardeio em Saka, localidade de onde 252 restos mortais foram escavados em cinco diferentes lugares.
As vítimas da radiação apresentam febre e hemorragias arroxeadas na pele, depois surge a gangrena e o cabelo cai. Esta morte dolorosa, tão parecida com o envenenamento por gás mostarda na tortura lenta que provoca, não era coisa na qual os estadunidenses desejariam que o público se concentrasse após o lançamento das bombas, afinal, os Estados Unidos da América haviam assinado tratados em 1889 e 1907 que baniam o uso de “armas envenenadas” na guerra. Pior que isso, os Estados Unidos haviam concordado com uma resolução de 1938 da Liga das Nações que tornava ilegal o bombardeio intencional a civis. Ou seja, com os ataques de Hiroshima e Nagasaki, os Estados Unidos simplesmente ignorou todos os tratados que haviam assinado até então.
Queimaduras provadas pela radiação liberada pela bomba.
Os motivos por trás do bombardeio
Os objetivos por trás dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki ficaram obscuros durante muito tempo. Na época foi alegada a resistência dos japoneses em aceitar rendição incondicional, já que os Estados Unidos exigia a deposição do imperador japonês e eles não aceitavam essa condição. Dwight Eisenhower, general americano que futuramente se tornaria presidente, disse que “O Japão estava buscando alguma forma de render-se com uma perda mínima de aparência (…) não era necessário golpeá-lo com aquela coisa” 2.
Com a recente liberação de documentos e diários antes considerados ultra-secretos, hoje já se pode concluir documentalmente que o principal objetivo por trás dos ataques a Hiroshima e Nagasaki foi a necessidade de enviar uma mensagem clara à União Soviética, que vinha se expandindo pelo leste europeu (Polônia, Romênia, Hungria), de que os Estados Unidos tinham em mãos uma arma poderosa e que não hesitariam em utilizá-la caso fosse necessário. Ainda de acordo com Peter Scowen, “… já em 1944 os americanos haviam considerado a arma um trunfo em suas relações com Stalin e Truman acreditava que uma exibição pública da capacidade da bomba iria tornar a URSS mais manejável na Europa…”.
Quanto a motivação do ataque, o próprio governo estadunidense acaba por se contradizer na hipótese de que teria sido a não rendição incondicional do Japão. No dia 10 de agosto, apenas um dia após a explosão de Nagasaki, o Japão entrega sua rendição assinada e os Estados Unidos abandonam a idéia da rendição incondicional alegando que se o imperador continuasse no poder isso permitiria uma ocupação mais ordeira pelas tropas estadunidenses.
Ironicamente, ao contrário do que desejavam os estadunidenses liderados por Harry Truman, a demonstração pública do poder da bomba atômica fez os líderes de todas as nações tremerem, mas, ao invés de ficarem sentados esperando que os Estados Unidos deixasse seu poder nuclear nas mãos da ONU, todos queriam ter tal poder nas mãos, especialmente a União Soviética que, liderada por Josef Stálin, deu início a Guerra Fria e a corrida armamentista nuclear, que só iria arrefecer praticamente 45 anos após os bombardeios, com o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas sob a liderança de Mikail Gorbatchev.

Olga Benario e Luis Carlos prestes ideologia e romance



                                                                    Filme : Olga


Revolucionária alemã nascida em Munique, famosa no Brasil por sua atuação revolucionária comunista ao lado do marido brasileiro Luís Carlos Prestes, líder do movimento que entraria para a história brasileira como Intentona Comunista. Oriunda de uma família de judeus de classe média, desde cedo participou de atividades comunistas e, graduada pelo KOMINTERN, a Terceira Internacional, tornou-se membro do Partido Comunista, liderou o processo de sua remoção de seu namorado Otto Braun da prisão de Moabit (1926), para o seu exílio na União Soviética. Aclamada e eleita pela juventude comunista para o cargo mais alto do Comitê Central da Juventude Comunista Internacional (1931), rompeu o romance com Braun. Participava de um curso de pára-quedismo e pilotagem de aviões em Moscou quando ouviu sobre o caso da malfadada Coluna Prestes e ficou impressionada com o feito. Prestes estava refugiado em Moscou, na condição de engenheiro e, , através dele, ingressou no Partido Comunista Brasileiro para liderar uma revolução que tirasse o Brasil da ditadura do Estado Novo (1934). Ela e Prestes passam por Leningrado, Helsinque, Estocolmo, Amsterdã, Bruxelas e, finalmente Paris, onde recebem documentos novos como Antônio Vilar e Maria Bergner Vilar, e assim chegaram à Nova York (1936). Rumo ao Brasil passaram por Miami, Santiago e Buenos Aires e desembarcaram em Florianópolis, passaram por Curitiba e chegaram à São Paulo e depois seguiram para morar no Rio de Janeiro. A notícia se que Prestes estaria retornando ao país, levou Getúlio Vargas a colocar a polícia política de Filinto Muller, chefe de polícia da cidade do Rio de Janeiro, em alerta. Assim que chegaram ao Rio de Janeiro, encontraram-se pela primeira vez com seus companheiros e distribuíram as tarefas iniciais. Morando no Rio de Janeiro, através das inúmeras reuniões, conviveu com todos os integrantes da liderança do movimento no meio do qual nasceram grandes amizades. Seus ideais eram baseados na luta contra o fascismo, contra o imperialismo, o subdesenvolvimento e o latifúndio, e tinha como líder Luís Carlos Prestes que, na presidência ANL, estimulava a agitação aliancista. O movimento de libertação nacional ganhava força de uma verdadeira revolução. Os aliancistas iam para as ruas, faziam passeatas deixando claro seu propósito de atingir o governo. O avanço da ANL assustou o governo Vargas que decretou a ilegalidade do PCB e da Aliança como partido. Com o fracasso da revolução e a sua conseqüente prisão, grávida de sete meses, foi deportada para a Alemanha de Hitler. Na Alemanha teve sua primeira e única filha, Anita Leocádia, em um campo de concentração da Alemanha nazista, onde viveria os últimos dias de sua vida. No começo de fevereiro (1942), um pouco antes de completar 34 anos, as mulheres foram reunidas no pátio central de Revensbruck para ouvir nos auto-falantes do campo a relação das 200 prisioneiras que na manhã seguinte seriam transferidas. Enquanto o auto-falante dava o último aviso, as prisioneiras relacionadas teriam 30 minutos para recolher seus pertences e se apresentar à oficial, meia hora suficiente para que ela escrevesse uma carta à filha e ao marido, antes de seguir para ser executada por um gás letal.

A guerra eo cinema - As guerras mundiais






As guerras e o cinema criaram, desde o seu primeiro encontro, uma
estreita relação, transformando o tema bélico em um espetáculo por excelência. Coube aos ingleses, logo no início da I Guerra Mundial, instrumentalizar o cinema como arma de guerra, mais especificamente como propaganda
de guerra. Logo em seguida, os alemães, instigados pelo General Luddendorf,
procuraram criar as condições de combater a mesma guerra, fundando a UFA/
Universum Film Aktiongesellchaft, a empresa cinematográfica que se tornaria
célebre durante a República de Weimar (1919-1933) e o III Reich, produzindo uma grande quantidade de filmes de qualidade e, mais tarde, de propaganda fascista. Assim, a guerra freqüentou o cinema intensamente, desde suas
origens, ora sob a forma de cinejornal – poucas vezes diferenciado da propaganda política de cunho nacionalista – ora como ficção, celebrando o heroísmo
nacional e a tragédia grandiosa da guerra. Algumas vezes, o cinema assumiu,
de modo claro, um papel fortemente pacifista, de combate e denúncia contra a guerra, pensada enquanto irrazão. Em vários momentos da história, a
estreita relação entre guerra e cinema fez com que o último se constituísse
em alvo de normatização do Estado, como no III Reich, na União Soviética
de Stalin ou conforme a prática da autocensura em Hollywood
2
.
Coube, contudo, ao cinema italiano inaugurar o gênero filme histórico, de onde o filme de guerra emergiria com suas maiores características. Com
grandes cenários – muitas vezes em ambientações naturais – rememorando
o passado glorioso e guerreiro da antiga Roma – desde suas origens o filme
de guerra mostrou-se, conforme afirma Pierre Sorlin, um subtexto da cultura
e da política contemporâneas. Mesmo quando se ocupava com um glorioso
passado – Roma antiga ou as guerras napoleônicas – o cinema visava, através
dos seus roteiros, justificar ou mobilizar a opinião pública em favor de uma
determinada política do Estado-Nação. Assim, dois filmes históricos italianos, praticamente fundadores do gênero histórico no início do século, são
feitos enquanto ferramenta de legitimação da expansão imperialista italiana,
desejosa de recriar no Mediterrâneo um Mare Nostrum do Império Romano,
marcando a arrancada do gênero: Quo Vadis, dirigido por Enrico Guazzoni,
em 1912 – no mesmo ano em que a Itália, ao vencer o declinante Império
Revisioning History. Film and the Construction of New Past, Princeton, University Press, 1995, e
Pierre Sorlin,  Sociologie du Cinéma, Paris, Aubier-Montaigne, 1977.
2
 Jerzy Toeplitz  Geschichte des Films, Berlin, Henschelverlag, 1982.

Guerra espanhola e artes



picmenor


Nascido aos 25 de outubro de 1881, em Málaga, sul da Espanha, Pablo Picasso é por muitos considerado o mais sensacional artista do século XX.
Na década de 1930, a guerra civil  estoura na Espanha e a população é gradativamente dizimada. O terror instalado pelo General Francisco Franco, comandante das forças nacionalistas, assusta a população. Franco alia-se a Hitler e a Mussolini e Alemanha e Itália passam a abastecer as forças Franquistas com aviões, mantimentos e armas.
Em abril de 1937, o comando aéreo alemão resolve fazer um "bombardeio teste" para avaliar os efeitos de um ataque em massa. Guernica, cidade sagrada para os bascos, foi a escolhida. O bombardeio, que durou cerca de quinze minutos, mostra-se extremamente eficaz.
Guerra Civil Espanhola transcorre. Picasso não consegue manter-se imune às misérias de seu povo e o ataque, desnecessário a Guernica, gera revoltas.  Apesar da omissão do mundo para com as atrocidades que vinham sendo cometidas em seu país, Picasso, de uma forma muito sutil, leva a guerra para o centro das atenções. A oportunidade não poderia ser melhor: havia sido convidado para participar de uma exposição mundial por onde certamente passariam artistas e intelectuais de todas as partes do mundo.
O mundo veria essa guerra através de "Guernica", que mostra o sofrimento e o desespero dos homens. Na tela, uma mulher com uma criança morta no colo chora desesperadamente e todos olham para o céu, horrorizados com o terror que vinha de cima e os tornava impotentes. A guerra dura até 1939 mas o franquismo se estende até os anos 70.

A crise da bolsa em 1929


Um retrato da Crise de 1929: investidor falido vendendo seu carro por apenas 100 dólares.
Um retrato da Crise de 1929: investidor falido vendendo seu carro por apenas 100 dólares.
O fim da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) colocou os Estados Unidos em um novo panorama econômico. De maior devedora, a economia norte-americana se transformou na principal credora da economia mundial. Além disso, expandiu o seu parque industrial ao ponto de reter em suas mãos praticamente um terço de todos os produtos industrializados que percorriam o mundo. Mediante tanta prosperidade, vemos que imigrantes de todo o mundo buscavam viver o tal “american way of life”.
O momento de expansão e euforia acabou se refletindo no comportamento do mercado de ações daquele país. Cidadãos das mais variadas classes sociais sonhavam em ascender socialmente investindo grande parte de suas economias no setor de ações. Esperando que a economia sustentasse patamares de crescimento constantes, vemos que a população norte-americana parecia realmente viver um sonho, a ilusão de que seu país não mais reconhecia limites.

Acreditando piamente nos princípios do liberalismo clássico, os governantes norte-americanos não enxergavam a necessidade de interferir nessa incessante onda especulativa. Com o passar do tempo, a capacidade de consumo dos norte-americanos passou a ser superada pela enorme quantidade de mercadorias produzidas pelas indústrias. No entanto, a despeito dessa tendência, as bolsas de valores insuflavam a especulação financeira sobre empresas que só ampliavam suas vendas e mercados.

Contudo, já em 1928, o estouro dessa bolha financeira começou a se manifestar quando o preço das mercadorias acumuladas começou a despencar e as empresas se viram forçadas a reduzir seu quadro de funcionários. Já no ano seguinte, muitos investidores se desesperavam tentado realizar a venda de suas ações para outros possíveis investidores. No dia 24 de outubro daquele ano, uma avalanche de ofertas e a ausência de compradores sentenciaram a quebra da Bolsa de Nova York.

Do dia para a noite, investidores milionários perderam tudo o que tinham em ações sem o menor poder de compra. A situação caótica levou muitos deles a subir no alto dos prédios e dar fim às suas próprias vidas. Milhares de trabalhadores perderam os seus empregos e nações que dependiam do investimento norte-americano viram a sua própria ruína. Na projeção de um incrível efeito dominó, diversas economias do mundo se viram gravemente prejudicadas.

Visando uma solução para o problema, o eleitorado norte-americano promoveu a vitória do democrata Franklin Delano Roosevelt para a presidência. Sob a sua tutela, a economia norte-americana revisou os princípios liberais e empreendeu a intervenção do Estado na economia com a criação do New Deal. No outro lado do Atlântico, vimos a ascensão de regimes totalitários que negavam o capitalismo através da instalação de governos fortemente centralizados.

Nazismo e racismo




A essência do fascismo e do nazismo está no totalitarismo, especificamente na noção de controlo totalitário, ou seja, na ideia de que o Estado, e em última instância o chefe-de-Estado (no caso da Alemanha o Führer), deveria controlar tudo e todos. Para isso a homogeneização da sociedade é fundamental. As formas de controlo social em regimes totalitários geralmente envolvem o uso e exacerbação do medo a um grau extremo. Todos passam a vigiar a todos e todos se sentem vigiados e intimidados. Cada indivíduo passa a ser "os olhos e ouvidos" do Führer no processo de construção de uma sociedade totalitária. Neste processo de homogeneização totalitária, os inúmeros festivais, actividades cívicas, com mobilização das massas nas ruas foram determinantes
Para controlar tudo e todos, o nazismo instigava e exacerbava ao extremo o nacionalista, geralmente associado às rivalidades com outros países supostamente ameaçadores.
A ideia de um inimigo externo extremamente poderoso é funcional unir a sociedade contra o "inimigo comum". O “medode” (um inimigo externo) é funcional para aglutinar socialmente povos que até pouco tempo não se identificavam enquanto uma só nação, como foram os casos de países unificados apenas no século XIX (Alemanha e Itália). Como Freud havia demonstrado, a necessidade da criação artificial da identidade em grupos sociais pode levar à homogeneização forçada destes, e a existência de membros diferentes no grupo é desestabilizadora, o que leva o grupo a tentar eliminá-lo. Tão relevante é esta explicação para entender o fenômeno do fascismo e do nazismo, que as obras de Freud estiveram entre as primeiras a serem queimadas nas famosas queimas de livros organizadas pelo Partido Nazista em 1933 e 1934.
Entretanto, era necessário mais do que apenas o medo de um inimigo externo para conseguir atingir o ultra-nacionalismo e o totalitarismo. Para isso era funcional criar "inimigos" internos, sorrateiros, subterrâneos, conspiratórios. Este papel de inimigo sorrateiro é destinado ao comunismo e aos comunistas como um todo na ideologia fascismo. O Nazismo acrescenta ao rol de "inimigos", em que já estava o comunismo, minorias étnico-religiosas como "inimigas": os judeus em um primeiro momento, depois ciganos e povos eslavos (já durante a II Guerra Mundial). A partir disto é que se torna central o segundo pilar do nazismo, a ideologia da superioridade racial ariana.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

a revolução russa e o trabalho









No começo do século XX, a Rússia era um país de economia atrasada e dependente da agricultura, pois 80% de sua economia estava concentrada no campo (produção de gêneros agrícolas).

Rússia Czarista

Os trabalhadores rurais viviam em extrema miséria e pobreza, pagando altos impostos para manter a base do sistema czarista de Nicolau II. O czar governava a Rússia de forma absolutista, ou seja, concentrava poderes em suas mãos não abrindo espaço para a democracia. Mesmo os trabalhadores urbanos, que desfrutavam os poucos empregos da fraca indústria russa, viviam descontentes com os governo do czar.

No ano de 1905, Nicolau II mostra a cara violenta e repressiva de seu governo. No conhecido Domingo Sangrento, manda seu exército fuzilar milhares de manifestantes. Marinheiros do encouraçado Potenkim também foram reprimidos pelo czar.

Começava então a formação dos sovietes (organização de trabalhadores russos) sob a liderança de Lênin. Os bolcheviques começavam a preparar a revolução socialista na Rússia e a queda da monarquia. A Rússia na Primeira Guerra Mundial

Faltava alimentos na Rússia czarista, empregos para os trabalhadores, salários dignos e democracia. Mesmo assim, Nicolau II jogou a Rússia numa guerra mundial. Os gastos com a guerra e os prejuízos fizeram aumentar ainda mais a insatisfação popular com o czar.

Greves, manifestações e a queda da monarquia

As greves de trabalhadores urbanos e rurais espalham-se pelo território russo. Ocorriam muitas vezes motins dentro do próprio exército russo. As manifestações populares pediam democracia, mais empregos, melhores salários e o fim da monarquia czarista. Em 1917, o governo de Nicolau II foi retirado do poder e assumiria Kerenski (menchevique) como governo provisório.

A Revolução Russa de outubro de 1917

Com Kerenski no poder pouca coisa havia mudado na Rússia. Os bolcheviques, liderados por Lênin, organizaram uma nova revolução que ocorreu em outubro de 1917. Prometendo paz, terra, pão, liberdade e trabalho, Lênin assumiu o governo da Rússia e implantou o socialismo. As terras foram redistribuídas para os trabalhadores do campo, os bancos foram nacionalizados e as fábricas passaram para as mãos dos trabalhadores.

Lênin também retirou seu país da Primeira Guerra Mundial no ano de 1918. Foi instalado o partido único: o PC (Partido Comunista).

A formação da URSS

Após a revolução, foi implantada a URSS ( União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Seguiu-se um período de grande crescimento econômico, principalmente após a NEP ( Nova Política Econômica ). A URSS tornou-se uma grande potência econômica e militar. Mais tarde rivalizaria com os Estados Unidos na chamada Guerra Fria. Porém, após a revolução a situação da população geral e dos trabalhadores pouco mudou no que diz respeito à democracia. O Partido Comunista reprimia qualquer manifestação considerada contrária aos princípios socialistas. A falta de democracia imperava na URSS.

Os líderes da União Soviética durante o regime socialista:

- Vladimir Lenin (8 de novembro de 1917 a 21 de janeiro de 1924) 
- Josef Stalin (3 de abril de 1922 a 5 de março de 1953)
- Nikita Khrushchov (7 de setembro de 1953 a 14 de outubro de 1964)
- Leonid Brejnev (14 de outubro de 1964 a 10 de novembro de 1982)
- Iúri Andopov (12 de novembro de 1982 a 9 de fevereiro de 1984)
- Konstantin Chernenko (13 de fevereiro de 1984 a 10 de março de 1985)
- Mikhail Gorbachev (11 de março de 1985 a 24 de agosto de 1991).

1° guerra mundial bombas inteligentes


 



Se por um lado a tecnologia abre novas perspectivas para matar com mais precisão, por outro, não consegue superar os desafios delidar com insurreições populares nem reduzir a morte de civis.
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O século XX conheceu cerca de 140 conflitos: dois deles foram “mundiais” e 15 resultaram em mais de um milhão de mortos. Contam-se 25 antes de 1939 e 115 a partir de 1945. Até o fim da Guerra Fria, o ritmo se acelerava de acordo com os “progressos” na invenção de novos armamentos, cada vez mais caros e sofisticados. Depois de 1991 e da queda da União Soviética, os conflitos entre Estados passaram a dar lugar a guerras civis.
Em torno da Primeira Guerra Mundial forjaram-se características que se desenvolveram nas décadas seguintes. A produção de armamento adquiriu seu caráter industrial de massa: por exemplo, entre 1914 e 1918, a França fabricou 51.700 aviões, envolvendo 1, 8 milhão de pessoas na produção de guerra.

Esse momento marcou a entrada na terceira dimensão, ao mesmo tempo no ar, com os aviões, e na água, com os submarinos. A mecanização, por meio dos tanques, revolucionou a cavalaria. As comunicações, essenciais para conduzir os tiros de artilharia, não se faziam mais por estafetas e cornetas, mas por telefone – 30 mil deles estavam em uso no fim de 1918.

 Ele também definiu a largada da corrida pelo gigantismo (calibres, tonelagens, ritmos de tiro das metralhadoras) e pelas “novas” armas (químicas). Todas essas características foram levadas ao apogeu no conflito seguinte: a Segunda Guerra Mundial.

A derrota russa para o Japão em 1905 já havia marcado um primeiro questionamento das potências tradicionais e a primeira derrota do “homem branco”. Nas guerras de resistência colonial entre 1918 e 1939, os revoltosos, por vezes, conseguiam garantir batalhas, mas não a vitória total (Guerra do Rif1). As guerras civis distinguiam-se por sua rudeza (na Rússia, na China), enquanto a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) prefigurava o grande enfrentamento de 1939-1945.

 As armas químicas foram usadas maciçamente durante a Primeira Guerra Mundial e, desde então, já faziam vítimas civis. Seu uso foi estendido durante as guerras coloniais – pelos britânicos no Iraque, e pela Itália na Líbia. Guernica2 inaugurou os bombardeios aéreos em grande escala sobre o Velho Continente, prática que foi generalizada ao longo do segundo conflito mundial, levando ao limite o desenvolvimento das armas clássicas.

 Os armamentos inventados a partir de então aceleraram a mudança: radar, foguete antitanque, pistola metralhadora, metralhadora pesada, lança-chamas, bomba incendiária, bomba superperfurante de 10 toneladas, primeiros aparelhos teleguiados, mísseis (V1 e V2), sonar, dispositivo infravermelho, sistemas de detecção eletromagnética etc. A dimensão industrial continuava mudando de escala. A Alemanha, o Reino Unido e a URSS produziram cerca de 100 mil aviões cada. Só os Estados Unidos fabricaram 320 mil. Das linhas de montagem estadunidenses saiam também dois milhões de caminhões, a mesma quantidade de jipes e 220 mil blindados. Os bombardeios em massa sobre as cidades assumiam uma amplitude inédita – lembremo-nos de Londres e Dresden. E, por fim, as duas bombas atômicas lançadas sobre o Japão colocaram o mundo na era nuclear e sob a marca do terror.
 Após a Segunda Guerra Mundial, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e o Pacto de Varsóvia se viram sob ameaça nuclear. Washington e Moscou acumulavam 30 mil ogivas estratégicas e 20 mil ogivas táticas, suficientes para destruir diversas vezes o planeta. Isso congelou os conflitos na zona europeia, que separava os dois rivais, mas o deslocou para a periferia, regiões que seriam chamadas de Terceiro Mundo. O enfrentamento ideológico atravessava as guerras de libertação nacional, sobretudo na Indochina.
 Esses conflitos constituíram campos de testes para as novas armas e suas doutrinas de uso: na Argélia, a França utilizou helicópteros e os princípios da guerra “contrarrevolucionária”, tentando responder aos estrategistas chineses ou vietnamitas da guerra “revolucionária”. No Vietnã, a força aérea estadunidense utilizou pela primeira vez as bombas “inteligentes” (guiadas com precisão) e organizou o uso em grande escala de armas químicas (agente laranja3). A guerra de junho de 1967 no Oriente Médio inaugurou os primeiros mísseis antinavio.
 A queda da União Soviética deu início a um período de desordem. A partir desse momento, os conflitos escaparam a qualquer controle e, cada vez mais, as guerras civis substituíram as disputas entre Estados. Paralelamente, com a Guerra do Golfo (1991) e as “guerras humanitárias”, foram aperfeiçoados os mísseis antimísseis, os mísseis de cruzeiro e generalizaram-se as munições guiadas com precisão, os famosos “ataques cirúrgicos” – que nem por isso poupavam civis. Seja contra a Sérvia (1999), o Afeganistão (2001) ou o Iraque (2003), a desproporção das forças era tal que o resultado foi evidente, mesmo que os exércitos vitoriosos não fossem necessariamente capazes de garantir o controle dos “vencidos”.

 No Oriente Médio, experimentavam-se continuamente as técnicas de guerra urbana: armas de terror contra populações não combatentes (bombas de fósforo, bombas de dardos, explosivos Dime etc.), o uso de escudos humanos, escavadeiras gigantes, passagem pelas paredes das casas, utilização de drones de vigilância e ataque4, mapeamento social por satélite, controle da informação, assassinatos de alvos específicos etc. Essas técnicas tornaram-se indispensáveis nas guerras conduzidas pelas tropas ocidentais no Afeganistão e no Iraque, já que os materiais ultrassofisticados inventados para enfrentar o Exército Vermelho revelaram-se frequentemente inoperantes. Em compensação, os rebeldes utilizavam técnicas rudimentares, mas eficazes, como os Improvised Explosive Device (IED, dispositivo explosivo improvisado), enterrados ao longo das estradas ou, claro, os atentados suicidas. Para responder a isso, os Estados Unidos se serviam cada vez mais dos drones e do assassinato de alvos “terroristas”, sempre sob o risco de, por engano, matar civis.
O preço das armas explodiu: o custo do bombardeiro B2 ultrapassou o orçamento militar anual de 122 países. Com isso, também aumentou a concentração das despesas militares: os Estados Unidos representam metade de todas as despesas mundiais e somente dez Estados demandam três quartos delas. A vigilância espacial generalizada, as armas de energia dirigida e os veículos não tripulados abrem novas perspectivas para matar mais longe, mais rápido e com custo maior.