Se por um lado a tecnologia abre novas perspectivas para matar com
mais precisão, por outro, não consegue superar os desafios delidar com
insurreições populares nem reduzir a morte de civis.
|
|
O século XX conheceu cerca de 140 conflitos: dois deles foram
“mundiais” e 15 resultaram em mais de um milhão de mortos. Contam-se 25 antes
de 1939 e 115 a partir de 1945. Até o fim da Guerra Fria, o ritmo se
acelerava de acordo com os “progressos” na invenção de novos armamentos, cada
vez mais caros e sofisticados. Depois de 1991 e da queda da União Soviética,
os conflitos entre Estados passaram a dar lugar a guerras civis.
Em torno da Primeira Guerra Mundial forjaram-se características que se
desenvolveram nas décadas seguintes. A produção de armamento adquiriu seu
caráter industrial de massa: por exemplo, entre 1914 e 1918, a França
fabricou 51.700 aviões, envolvendo 1, 8 milhão de pessoas na produção de
guerra.
Esse momento marcou a entrada na terceira dimensão, ao mesmo tempo no
ar, com os aviões, e na água, com os submarinos. A mecanização, por meio dos
tanques, revolucionou a cavalaria. As comunicações, essenciais para conduzir
os tiros de artilharia, não se faziam mais por estafetas e cornetas, mas por
telefone – 30 mil deles estavam em uso no fim de 1918.
Ele também definiu a largada da corrida pelo gigantismo
(calibres, tonelagens, ritmos de tiro das metralhadoras) e pelas “novas”
armas (químicas). Todas essas características foram levadas ao apogeu no
conflito seguinte: a Segunda Guerra Mundial.
A derrota russa para o Japão em 1905 já havia marcado um primeiro
questionamento das potências tradicionais e a primeira derrota do “homem
branco”. Nas guerras de resistência colonial entre 1918 e 1939, os
revoltosos, por vezes, conseguiam garantir batalhas, mas não a vitória total
(Guerra do Rif1). As guerras civis distinguiam-se por sua
rudeza (na Rússia, na China), enquanto a Guerra Civil Espanhola (1936-1939)
prefigurava o grande enfrentamento de 1939-1945.
As armas químicas foram usadas maciçamente durante a Primeira
Guerra Mundial e, desde então, já faziam vítimas civis. Seu uso foi estendido
durante as guerras coloniais – pelos britânicos no Iraque, e pela Itália na
Líbia. Guernica2 inaugurou os bombardeios aéreos em
grande escala sobre o Velho Continente, prática que foi generalizada ao longo
do segundo conflito mundial, levando ao limite o desenvolvimento das armas
clássicas.
Os armamentos inventados a partir de então aceleraram a mudança:
radar, foguete antitanque, pistola metralhadora, metralhadora pesada,
lança-chamas, bomba incendiária, bomba superperfurante de 10 toneladas,
primeiros aparelhos teleguiados, mísseis (V1 e V2), sonar, dispositivo infravermelho,
sistemas de detecção eletromagnética etc. A dimensão industrial continuava
mudando de escala. A Alemanha, o Reino Unido e a URSS produziram cerca de 100
mil aviões cada. Só os Estados Unidos fabricaram 320 mil. Das linhas de
montagem estadunidenses saiam também dois milhões de caminhões, a mesma
quantidade de jipes e 220 mil blindados. Os bombardeios em massa sobre as
cidades assumiam uma amplitude inédita – lembremo-nos de Londres e Dresden.
E, por fim, as duas bombas atômicas lançadas sobre o Japão colocaram o mundo
na era nuclear e sob a marca do terror.
Após a Segunda Guerra Mundial, a Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN) e o Pacto de Varsóvia se viram sob ameaça nuclear.
Washington e Moscou acumulavam 30 mil ogivas estratégicas e 20 mil ogivas
táticas, suficientes para destruir diversas vezes o planeta. Isso congelou os
conflitos na zona europeia, que separava os dois rivais, mas o deslocou para
a periferia, regiões que seriam chamadas de Terceiro Mundo. O enfrentamento
ideológico atravessava as guerras de libertação nacional, sobretudo na
Indochina.
Esses conflitos constituíram campos de testes para as novas
armas e suas doutrinas de uso: na Argélia, a França utilizou helicópteros e
os princípios da guerra “contrarrevolucionária”, tentando responder aos
estrategistas chineses ou vietnamitas da guerra “revolucionária”. No Vietnã,
a força aérea estadunidense utilizou pela primeira vez as bombas
“inteligentes” (guiadas com precisão) e organizou o uso em grande escala de
armas químicas (agente laranja3). A guerra de junho de 1967
no Oriente Médio inaugurou os primeiros mísseis antinavio.
A queda da União Soviética deu início a um período de desordem.
A partir desse momento, os conflitos escaparam a qualquer controle e, cada
vez mais, as guerras civis substituíram as disputas entre Estados.
Paralelamente, com a Guerra do Golfo (1991) e as “guerras humanitárias”,
foram aperfeiçoados os mísseis antimísseis, os mísseis de cruzeiro e
generalizaram-se as munições guiadas com precisão, os famosos “ataques
cirúrgicos” – que nem por isso poupavam civis. Seja contra a Sérvia (1999), o
Afeganistão (2001) ou o Iraque (2003), a desproporção das forças era tal que
o resultado foi evidente, mesmo que os exércitos vitoriosos não fossem
necessariamente capazes de garantir o controle dos “vencidos”.
No Oriente Médio, experimentavam-se continuamente as técnicas de
guerra urbana: armas de terror contra populações não combatentes (bombas de
fósforo, bombas de dardos, explosivos Dime etc.), o uso de escudos humanos,
escavadeiras gigantes, passagem pelas paredes das casas, utilização de drones
de vigilância e ataque4, mapeamento social por satélite,
controle da informação, assassinatos de alvos específicos etc. Essas técnicas
tornaram-se indispensáveis nas guerras conduzidas pelas tropas ocidentais no
Afeganistão e no Iraque, já que os materiais ultrassofisticados inventados
para enfrentar o Exército Vermelho revelaram-se frequentemente inoperantes.
Em compensação, os rebeldes utilizavam técnicas rudimentares, mas eficazes,
como os Improvised Explosive Device (IED, dispositivo explosivo improvisado),
enterrados ao longo das estradas ou, claro, os atentados suicidas. Para
responder a isso, os Estados Unidos se serviam cada vez mais dos drones e do
assassinato de alvos “terroristas”, sempre sob o risco de, por engano, matar
civis.
O preço das armas explodiu: o custo do bombardeiro B2 ultrapassou o
orçamento militar anual de 122 países. Com isso, também aumentou a
concentração das despesas militares: os Estados Unidos representam metade de
todas as despesas mundiais e somente dez Estados demandam três quartos delas.
A vigilância espacial generalizada, as armas de energia dirigida e os
veículos não tripulados abrem novas perspectivas para matar mais longe, mais
rápido e com custo maior.
|
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
1° guerra mundial bombas inteligentes
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário