sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A guerra eo cinema - As guerras mundiais






As guerras e o cinema criaram, desde o seu primeiro encontro, uma
estreita relação, transformando o tema bélico em um espetáculo por excelência. Coube aos ingleses, logo no início da I Guerra Mundial, instrumentalizar o cinema como arma de guerra, mais especificamente como propaganda
de guerra. Logo em seguida, os alemães, instigados pelo General Luddendorf,
procuraram criar as condições de combater a mesma guerra, fundando a UFA/
Universum Film Aktiongesellchaft, a empresa cinematográfica que se tornaria
célebre durante a República de Weimar (1919-1933) e o III Reich, produzindo uma grande quantidade de filmes de qualidade e, mais tarde, de propaganda fascista. Assim, a guerra freqüentou o cinema intensamente, desde suas
origens, ora sob a forma de cinejornal – poucas vezes diferenciado da propaganda política de cunho nacionalista – ora como ficção, celebrando o heroísmo
nacional e a tragédia grandiosa da guerra. Algumas vezes, o cinema assumiu,
de modo claro, um papel fortemente pacifista, de combate e denúncia contra a guerra, pensada enquanto irrazão. Em vários momentos da história, a
estreita relação entre guerra e cinema fez com que o último se constituísse
em alvo de normatização do Estado, como no III Reich, na União Soviética
de Stalin ou conforme a prática da autocensura em Hollywood
2
.
Coube, contudo, ao cinema italiano inaugurar o gênero filme histórico, de onde o filme de guerra emergiria com suas maiores características. Com
grandes cenários – muitas vezes em ambientações naturais – rememorando
o passado glorioso e guerreiro da antiga Roma – desde suas origens o filme
de guerra mostrou-se, conforme afirma Pierre Sorlin, um subtexto da cultura
e da política contemporâneas. Mesmo quando se ocupava com um glorioso
passado – Roma antiga ou as guerras napoleônicas – o cinema visava, através
dos seus roteiros, justificar ou mobilizar a opinião pública em favor de uma
determinada política do Estado-Nação. Assim, dois filmes históricos italianos, praticamente fundadores do gênero histórico no início do século, são
feitos enquanto ferramenta de legitimação da expansão imperialista italiana,
desejosa de recriar no Mediterrâneo um Mare Nostrum do Império Romano,
marcando a arrancada do gênero: Quo Vadis, dirigido por Enrico Guazzoni,
em 1912 – no mesmo ano em que a Itália, ao vencer o declinante Império
Revisioning History. Film and the Construction of New Past, Princeton, University Press, 1995, e
Pierre Sorlin,  Sociologie du Cinéma, Paris, Aubier-Montaigne, 1977.
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 Jerzy Toeplitz  Geschichte des Films, Berlin, Henschelverlag, 1982.

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